sexta-feira, 23 de abril de 2010

O último Dia das Crianças

Artur, caminhão de gás, Dona Flora, sirene, Célia, carteiro, Seu Tanaka, todos passam à porta do restaurante.
– Ah, esse cheiro de peixe. Tô com fome.
– Eu também. Calma, velho, a gente resolve.
– Cadê tua mãe, Tinho?
– Não sei. Diz que ia pedir dinheiro pra uns parentes nossos lá em Minas.
– Sonhei que estava voando, sabia?
– De novo, Salmão? Só falta acreditar em ET também.
– Lógico. É só olhar tua cara.

Gargalhadas alheias quase sempre incomodam cidadãos de bem. Enquanto almoçam.

– Cala a boca!
– Manda calar a boca da tua mãe, seu corno.
– Moleque filho da puta!
Três murros, Salmão cai de boca. Rosto se avermelha, Salmão se encosta. Segundos se arrastam, Salmão silencia.
Sacola rebola, Salmão observa. Barriga ronca, Salmão respira. Raiva saliva, Salmão pega a pedra. Sacola é branca, Salmão preto novo. Rosto se seca, Salmão se levanta. Sacola balança, Salmão solta a pedra.
Parece comida, Salmão, atleta. Pernas curtas, Salmão, lebre. Mãos ágeis, Salmão, ratazana. Sacola é sua, Salmão, bailarino.
São só brinquedos, Salmão, passos leves.
– Ladrão!
Farda é cinza, Salmão passa cego.
– Corre, Salmão!
Ferro é brilhante, Salmão, passos largos
– Se abaixa, Salmão!

Disparo é seco.

Salmão, passarinho.

Nenhum comentário: