sábado, 12 de abril de 2008

paz clandestina

ar puro
purificado
traço edificado

de vento
voraz
calmaria ambulante

para
lugar outro
algum
se destina

saída tangente
retorno
obrigatório ar
de fuga

de volta
a circular
circular

circular

moinho
secular

Luz adâmica

Certa vez, saí de uma caverna meio escura.
Em sentido contrário ao calor.
Senti frio.

Chorei.

Fui ofuscado por uma luz deveras artificial.
Fui banhado por águas menos puras das que até então estava imerso.

De curvo, fiquei mais ereto.
De amorfo, fui ganhando contornos definidos.
Muitos toques.
Muitas vozes.
Muitos sorrisos.
Muito pano.

Cresci, de verdade, como pessoa depois disso.
Me desenvolvi.
De objeto, virei independente.
Dono dos próprios ouvidos.
Da própria boca.
Dono do próprio nariz.

Co-dono da casa própria.

Co-proprietário do próprio carro.

Nada mais me ofusca.
Nem Brasília.

Nem de time adversário, o gol.

Ando com as pernas minhas.
Sem olhar para trás.
Porque já me livrei das trevas de onde vim.
Já me livrei das amarras.

Já tracei o meu fim da linha.
E o fiz com muita alegoria.
E concluí, fechada, minha filosofia.

Isso aqui.
Descoberto.
Desmundo.
Nu.
É verossimilhança.

E só.